RIO - A Organização Mundial da Saúde adverte: chefe ruim faz mal à saúde. Com uma freqüência cada vez maior, profissionais que são alvos de críticas infundadas e humilhações sistemáticas no ambiente de trabalho adoecem física e psicologicamente. O impacto do assédio moral na saúde é tão grande que a Organização Internacional do Trabalho já o considera um problema de saúde.
Dor de estômago, dor de cabeça, insônia, tremores e palpitações são as conseqüências físicas mais imediatas reportadas pelas vítimas do terror psicológico no trabalho. A longo prazo, o problema pode causar ainda úlceras, doenças cardiovasculares e obesidade. Os efeitos psicológicos podem ser ainda mais graves e vão da síndrome do pânico à depressão.
- O assédio moral pode abalar profundamente a auto-estima do profissional, de forma irrecuperável. A pessoa passa a se sentir um zero a esquerda, incapaz de agregar qualquer valor à equipe, ao trabalho. Ela deixa de acreditar em si mesma - Raquel Parente Mota, consultora de RH do Grupo Catho.
O assédio moral sempre existiu no mercado de trabalho. Só que com outro nome.
- Até os anos 1960, isso se chamava 'demonstração de autoridade' - explica o escritor Max Gehringer. - Os chefes eram tão absolutos, e os empregados tão submissos, que as broncas e humilhações públicas eram rotineiras. O conceito de "socialmente correto" só ganhou força a partir da década de 1990, nos Estados Unidos. De repente, milhões de funcionários que eram tratados com desrespeito descobriram que podiam, e deviam, reclamar.
Há inúmeras formas de tiranizar um empregado. Em geral, o chefe autoritário dá ordens confusas, estabelece metas irreais, faz das pessoas peças descartáveis e semeia a desmotivação. Auditor de uma importante instituição financeira em Minas Gerais, [nome removido] foi vítima de assédio moral durante sete meses, antes de jogar a toalha e pedir demissão.
- Fui destacado para uma função muito aquém das minhas qualificações. Eu era constantemente ridicularizado na frente dos outros funcionários e mesmo ignorado publicamente. Tive o meu trabalho tão desmerecido e desprezado, que cheguei a duvidar da minha capacidade.
Totalmente desestimulado e profundamente infeliz, [nome removido] pediu as contas. Preferiu ganhar três vezes menos em uma empresa de médio porte em troca de respeito e reconhecimento. Com a auto-estima recuperada, resolveu criar um fórum de discussão sobre o assédio moral no Orkut.
- Eu não soube como agir, na época, porque não tinha muita informação a respeito do que estava acontecendo comigo. Não sabia que isso acometia outras pessoas e que tinha um nome. A comunidade é um ponto de apoio para as vítimas de assédio moral. Através da troca de experiências, as pessoas se informam melhor sobre o problema e descobrem, juntas, novas formas de se defender. É fundamental para o processo de cura saber que não se está sozinho nessa batalha - defende [nome removido].
O assédio, em geral, se dá de forma lenta e contínua. A violência, sutil, se concretiza em intimidações, constrangimentos, difamações e ironias, o que muitas vezes dificulta a identificação do problema. Mas há os agressores que não fazem qualquer questão de discrição. Pelo contrário. Querem afirmar a sua autoridade às custas do constrangimento público dos seus subordinados.
- Em uma grande rede de supermercados, os funcionários que não tivessem alcançado as suas metas ao fim do dia eram obrigados pelo gerente a subir em uma mesa e a dançar para toda a equipe. - conta Luisa Chomiuni, consultora da Thomas e Case Associados. - Em outra empresa, quem não tivesse um rendimento satisfatório deveria trabalhar com um nariz de palhaço.
Para José Alberto Alves Azevedo, vice-presidente da Thomas e Case, por trás da máscara do autoritarismo escondem-se pessoas extremamente inseguras, com sérios problemas de auto-estima, que querem a todo custo ser o foco das atenções.
- Quem realmente detém o poder, não sente necessidade de ostentá-lo. Impõe respeito sozinho, sem o uso de artifícios, como ameaças ou a força - avalia.
No Brasil, algumas empresas já adotaram certas normas para coibir o assédio moral. Outras investem pesado no relacionamento interpessoal para tornar o ambiente de trabalho mais agradável e menos propenso a conflitos:
- As empresas são em parte responsáveis pelo problema. Nem sempre as atribuições referentes a cada cargo são claras, o que pode favorecer abusos. Além disso, é fundamental haver alguma forma de monitoramento das atividades, além do incentivo à denúncia - avalia Raquel Parente Mota, consultora de RH do Grupo Catho.
Fonte: Globo Online
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